quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

A justiça foi feita

>)))º> Por Caio Ruscillo*

Meus caros, nesta semana, mais precisamente na quinta-feira, dia 22, tivemos oficializado o reconhecimento dos títulos da Taça Brasil e do Torneio Roberto Gomes Pedrosa, torneios que compreendem a “Era de Ouro” do futebol brasileiro e do Santos Futebol Clube, entre 1959 e 1970. Período em que o Clube praiano e a CBD, então organizadora do futebol nacional, conquistaram dois títulos mundial cada (Santos em 62 e 63, e Seleção Brasileira em 62 e 70).

É bem verdade, que, para alegria de quem escreve profissionalmente, mas de maneira passional (honrando as cores de seus clubes), a demora para este reconhecimento coloca em dúvida o valor destas conquistas.

O argumento “Estamos homenageando o Pelé” é bacana, é legal, mas se for só esse é piada. E Gilmar dos Santos Neves, Zito, Lima, Pepe, Dorval, Coutinho, Mengálvio, e tantos outros? Eles, por acaso, tem culpa que a CBD não fez uma competição com um formato mais amplo? Não. Se a Taça Brasil e o Robertão eram os principais torneios, classificatórios para a Libertadores, e a Confederação que os organizava os dispunham desta forma perante o cenário nacional e internacional, eles são sim os títulos máximos, a exemplo do que é hoje o Brasileirão.

Reconhecer estes títulos é muito mais do que afagar o Rei do futebol. É uma homenagem ao grande Santos, do Presidente Athié Jorge Cury, do técnico Lula, dos gênios da bola acima citados. Também ao Bahia, time do sofrido nordeste, agora oficialmente o primeiro campeão brasileiro da história. É também um reconhecimento ao Botafogo de Garrincha, a academia do Palmeiras, do divino Ademir da Guia, ao Cruzeiro de Tostão. Elencos e craques que jogaram estas competições e comemoraram na certeza de que se tratavam dos torneios máximos do futebol brasileiro, tal qual é hoje o Brasileirão.

Argumentos furados

As pessoas (jornalistas sérios ou não, e muitos torcedores de times que não foram beneficiados) lançam mão de argumentos para defenderem a tese de que estes títulos não valem lá grande coisa. Um deles é estapafúrdio: o nome da competição. Realmente, Taça Brasil, Roberto Gomes Pedrosa e Campeonato Brasileiro são nomenclaturas diferentes. Mas isso em nada interfere no valor do título. O que pensaria um torcedor do Real Madrid se eu dissesse a ele que seis dos nove títulos que eles possuem da UEFA Champions League são títulos menores, pois na época o nome do torneio era Taça dos Campeões Europeus, e o formato de disputa e até mesmo o troféu eram diferentes? Acharia que eu sou louco, certamente.

O formato de disputa também gera polêmica. Um dos principais argumentos é que nos anos de 1962 e 1965 o Santos entrou na semifinal. Coisas do regulamento, e nada a toa: por ter sido campeão paulista nos anos anteriores, o Santos tinha este direito assegurado. Aliás, para os são-paulinos que se apegam a isso, algo semelhante aconteceu com vocês: na Copa Libertadores de 1993, por ter sido campeão da edição anterior, o São Paulo só entrou na fase de mata-mata da competição. E nem por isso é mais campeão, ou menos campeão que os outros. Coisas do regulamento. Se fôssemos nos apegar a ferro e fogo ao formato, a turma que ganhou o Brasileirão na época do mata-mata é “menos campeã” do que a torma que ganhou o Brasileirão de 2003 pra cá, na era dos pontos corridos.

Aliás, no mesmo ano de 1993, o São Paulo disputou o Mundial de Clubes (ou Torneio Intercontinental, como cismam alguns) contra o Milan-ITA. Afinal, naquela época, o Mundial de Clubes era composto pelo campeão da Libertadores e o da Champions League, certo? Errado, pelo menos naquela ocasião. O campeão da Liga dos Campeões foi o Olympique de Marselha-FRA, que não disputou o mundial por problemas de corrupção com seu então presidente. O Milan, vice da Europa, foi em seu lugar. E nem por isso o São Paulo é menos campeão do mundo.

Aliás, ainda no formato, a Internazionale-ITA, atual campeã do Mundial de Clubes, ficaria feliz em saber que seu título atual vale mais do que os dois que ela conquistou na década de 60, pois naquela ocasião, não enfrentou, nem um time asiático, nem um time africano? Claro que não. Ou então o título do Uruguai na Copa de 1930 vale menos do que o título da Espanha, pois o Uruguai fez 5 partidas e a Espanha 7, e naquele torneio, ao contrário da atualidade, não participavam seleções asiáticas, africanas ou da Oceania? Bobagem. Isto é plena hipocrisia. Não existe competição no mundo - que tenha certa tradição - que conserve o mesmo formato de disputa da sua primeira edição.

Posto tudo isso, é louvável a atitude da CBF em reconhecer os títulos. Antes tarde do que nunca, é a história do futebol brasileiro, em seu auge, merecidamente reconhecida.

*Caio Ruscillo é torcedor do Santos e comentarista da Radio Santista.

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